Embora testes laboratoriais sejam necessários para o diagnóstico precoce de doenças, eles não são infalíveis. Resultados falso-positivo e falso-negativo são ocorrências possíveis, inclusive em exames para o câncer de próstata ou de mama, o que pode impactar diretamente a conduta médica e o bem-estar do paciente.
De acordo com a Academia de Ciências dos Estados Unidos, a maioria das pessoas experimentará, pelo menos, um erro de diagnóstico ao longo da vida. Em paralelo, o número de processos por erro médico no Brasil disparou 506% em 2024, o que totaliza 74.358 casos, conforme dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
A Academia Brasileira de Medicina e Tecnologia (ABMed) esclarece que um resultado falso-positivo ocorre quando o exame indica erroneamente a presença de uma doença. Já o falso-negativo é registrado quando o teste falha em detectar uma enfermidade existente.
Esses erros estão associados a dois parâmetros: sensibilidade, que é a capacidade do teste de identificar corretamente os indivíduos com a doença, e especificidade, que mede a capacidade de reconhecer aqueles que não a possuem.
Diversos fatores podem influenciar a precisão dos exames laboratoriais, incluindo a prevalência da doença na população. Em doenças raras, como certos tipos de câncer, a chance de um falso-positivo aumenta. Do mesmo modo, exames realizados fora do tempo ideal ou sem preparo adequado têm maior risco de erro.
Dessa forma, se uma doença é rara, é mais provável que um teste acuse a presença dela por engano, já que a chance real de alguém estar doente é pequena. Isso gera um falso-positivo. Já se o exame for feito muito cedo, antes da doença se manifestar claramente no corpo, ele pode não detectar nada, mesmo que a pessoa esteja doente – o que resulta em um falso-negativo.
Por isso, o momento certo e o tipo certo de teste são tão importantes. Quando se trata de o que causa câncer de pulmão, por exemplo, fatores como tabagismo, exposição a poluentes e histórico familiar estão entre os principais vilões. Mas o rastreamento precoce depende de testes com alta sensibilidade, pois tumores em estágios iniciais podem passar despercebidos em exames com menor capacidade de detecção.
Além disso, fatores técnicos como armazenamento e transporte das amostras, interferências de medicamentos, tempo de coleta e até mesmo o estado emocional do paciente podem impactar o resultado. Esses fatores são ainda mais relevantes quando há grande volume de amostras coletadas em um mesmo dia ou quando há falha na comunicação sobre o histórico do paciente.
O que este artigo aborda:

Como lidar com um resultado falso-positivo ou falso-negativo?
O farmacêutico e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Israel Diniz Lima, conversou conosco para falar sobre o tema. Ele é pesquisador na área de biologia celular e do desenvolvimento e pesquisa em imunopatologia de doenças infecciosas.
Segundo Israel, diante de um resultado inconsistente, a recomendação é sempre reavaliar. “Se o resultado parecer inconsistente, o ideal é repetir o exame ou buscar outros testes complementares, preferencialmente com métodos diferentes e maior confiabilidade”, orienta. Ele explica que a escolha do teste mais adequado ajuda a evitar intervenções desnecessárias e aumenta a segurança no diagnóstico.
O uso de exames com maior especificidade é indicado quando se deseja confirmar que o paciente não tem determinada doença. Para rastreios iniciais, como em campanhas de prevenção, o ideal são testes com alta sensibilidade. Um exemplo é o PSA, comumente usado nos exames para o câncer de próstata, que pode gerar falso-positivo caso o paciente tenha inflamação benigna ou infecção no trato urinário.
Israel também reforça a importância de se considerar o contexto clínico do paciente: o momento da infecção, resposta imunológica e até o histórico vacinal. “Um falso-positivo pode acontecer, por exemplo, se o paciente tiver anticorpos circulantes por causa de uma vacina recente. E um falso-negativo pode surgir se o teste for feito fora da janela ideal da resposta imunológica”, completa.
Assim, entender a dinâmica biológica do organismo e utilizar os testes mais adequados ao contexto clínico são medidas fundamentais para evitar diagnósticos errados e garantir mais segurança ao paciente.
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